Certa vez, Paulo Freire disse ser necessário, desde o começo do processo da educação que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.
Com essas form(ações), chegamos a 2022, professores. Quem diria que passaríamos por tormentas nestes dois últimos anos, hein? Acredito que ninguém previu isso, nem mesmo os “futurólogos” de plantão. E vencemos, sim. Vencemos!
Não se culpe por não ter alcançado todos os estudantes durante as aulas remotas, a culpa não é sua, é lapso de um sistema que sempre marginalizou a educação e infelizmente nos colocou como meros cuidadores de crianças.
Contudo, fugindo dos protocolos do senso comum, conseguimos! Não irei aqui reproduzir o papo confortável de que nos reinventamos durante a pandemia, pois quem é professor sabe que isso é ato do cotidiano em nossa profissão. O que fizemos de diferente foi entrar na casa das famílias e mostrar o quanto somos bons, embora algumas casas ficavam desconcertadas com nossa presença no interior do espaço familiar de cada estudante, afinal, passamos a analisar as dificuldades de muitas crianças que outrora eram jogadas sobre nossas costas, não era culpa da escola, tampouco do professor, mas resultado de pais completamente ausentes. Talvez essa tenha sido nossa principal “reinvenção”: ampliar nossos “olhos de águia” para alguns problemas que ocorrem inteiramente nos contextos familiares e que de fato nos entristecia muito mais do que não levar o objetivo de aprendizagem pensado em nossos planos. Pense comigo: a casa do estudante ausentava a comida e o amor, de fato ele não queria saber sobre o relevo do continente europeu.
As janelas da casa dos estudantes que antes estavam fechadas para nós foram abertas.
Com isso, quem se reinventou, ou melhor, quem se “formou” não fomos nós professores e professoras, mas sim as famílias que tiveram um novo olhar sobre o processo de ensino e aprendizagem. Evidente que isso não se aplica a todos, pois a cegueira de alguns é a segurança que apresentam para se manterem em suas bolhas, afinal, Saramago, em seu livro Ensaio sobre a Cegueira, sempre nos alertou que somos cegos porque temos medo de ver. Por isso, professor, quando escutar críticas de alguém que esteja fora da educação, ou até mesmo na sala ao lado, passe a “enxergar” isso como o desabafo de alguém que tem medo de reconhecer o belo trabalho que nós, professores e professoras, conduzimos, logo quem critica não se formou.
De certo, tudo isso nos ajudou e, de certo modo, nos fortaleceu enquanto educadores. Por isso, começaremos o ano letivo “tinindo” e com várias ideias germinadas nesse último período.
Sendo assim, ao chegar na sala dos professores este ano, olhe para cada um deles e reconheça, mesmo com o bonde puxando no sentido contrário, o quanto, acima de tudo, somos resistência!
Evidentemente a pandemia não acabou, mas os capítulos finais começaram a ser traçados com o avanço da vacina. No entanto, temos ainda que tomar todos os cuidados sanitários, e, ao retornar para a escola, considere todo o aprendizado adquirido como ponto de ajuda ao colega. Não julgue o colega neste retorno! Não se deixe levar por angústias que fogem de seu controle!
Em vozes mais sábias, às vezes é bom se aproveitar de um contexto em que a filosofia nos ajuda, o estoicismo, que em poucas palavras diz sobre não enlouquecer com aquilo que foge de nosso controle. Com isso, o filósofo grego Epíteto ajuda a terminar meu papo com vocês:
“Só existe um caminho para a felicidade, que é deixar de nos preocupar com coisas que estão além do poder da nossa vontade”.
Logo, fizemos para além daquilo que era proposto a nós e sofremos. Que este ano possamos nos alimentar apenas daquilo que está em nossas mãos!
"A tecnologia mais eficiente criada pelo ser humano não são as máquinas tampouco os meios super mega ultra powers digitais, mas sim o diálogo, uma ferramenta de uso simples, mas de grande potencial em conectar, ajudar, colaborar e principalmente, AMPLIFICAR! -"
Uma resposta para “O bonde puxou para trás, mas conseguimos chegar!”
Belo texto, Baglini. Muitas verdades secretas. Sigamos em frente e, tomara que a Educação, bem como a Saúde estejam nos debates desses novos presidenciáveis sob um novo olhar.
Belo texto, Baglini. Muitas verdades secretas. Sigamos em frente e, tomara que a Educação, bem como a Saúde estejam nos debates desses novos presidenciáveis sob um novo olhar.