O dia começou, a noite começou, o dia começou, a noite começou… mais uma aula na videochamada!
Por
Rodrigo Baglini ·
6 de abril de 2021
Mais um dia se passou e comigo aquela sensação de que tudo que faço durante o isolamento social não surte efeito para meus alunos(as), ou melhor, mais um dia que se repete ao longo desses meses que se tornaram circulares e que a única sensação que tenho é de ver o dia e a noite subir e descer pela minha janela.
Esta impressão inicia-se às 6 horas da manhã, quando o despertador anuncia mais um dia e o botão do “on” me traz à frente da tela fria de um computador, esperando a interação de vozes “metalizadas” nas videochamadas que se tornaram nossa sala de aula no último ano.
Após devolutivas, trocas de mensagens no celular, envio e recebimento de atividades, cursos, treinamentos, reuniões pedagógicas, gravação de aulas, áudios e mais áudios, o dia termina às 22h, exatamente do jeito que começou, no mesmo lugar!
Nós, professores(as), precisamos do barulho, da desordem, da sala dos professores(as), das reclamações entre pares, do corredor e até mesmo daquela fofoca no encostar da porta enquanto os alunos fazem atividades, e isto só é possível na escola.
O saudoso professor Paulo Freire sempre dizia que “a escola é feita de GENTE”, evidentemente essa frase nunca fez tanto sentido para nós! Pois, a falta de gente está nos aprisionando sobre sensações de amargura e constante falha enquanto educador.
Além da ausência de gente, somos bombardeados diariamente através das redes sociais de “sucesso” de professores(as) que conseguiram engajar seus alunos durante a pandemia e que através de técnicas simples alcançaram a “plenitude” do ensino-aprendizagem e nós, ao vermos aquilo, pensamos: é o fim!
Tudo isso acaba contribuindo para a manutenção de enxugar o gelo e sensação de fracasso, seja pelos outros, seja pela escola, seja por nós. O que eu queria mesmo era poder gritar e abraçar alguém. Então, grite, pois, eu gritei!
Se você leu até aqui, é um bom sinal, afinal nestes tempos tão “distópicos” a nossa leitura normalmente é interrompida com notificações de entregas de atividades, e o nosso olhar pedagógico quer logo ver quem foi que entregou (risadas).
Primeiramente, receba aqui meu abraço bem “quentinho” e chore em meu ombro, pois estou fazendo o mesmo contigo, depois disso tudo, permita-se errar, permita-se não saber de tudo, permita-se mostrar para a escola e sobretudo para seus alunos que você não sabe gravar videoaula, permita-se ser você.
Vou te contar um segredo, e quero que guarde numa caixinha: seus alunos gostam de VOCÊ! Eles não estão preocupados se fez o game, gravou a aula, fez as mágicas da internet e tudo mais, pelo contrário, eles querem você.
Confesso que não é fácil aceitar isso, pois queremos abraçar o mundo e na maioria das vezes conseguimos (risadas), porém, agora, o mundo é delimitado por uma janela e paredes que nos cercam em nossos espaços de aula que foram, de uma hora para outra, adaptados em nossa casa e até os nossos gritos ficaram presos no interior de nossas angústias.
Por mais que desejemos o melhor para nossos alunos e principalmente para a educação, temos que desejar o melhor para nós, pois, antes de sermos professores, somos pais, mães, irmãos, amigos, companheiros(as), filhos (as)… sim, somos humanos, embora às vezes deixemos isso de lado. De nada adianta ter uma Ferrari (aparelhos, máquinas, internet, microfones, câmeras, programas de gerenciamento) se não tivermos a gasolina. Nós.
Aproveite o nosso abraço e abrace outros professores; para isso, compartilhe, ajude, seja ajudado crie um ambiente coletivo, pois sozinho(a) você não está!
22h02, mais um dia está terminando, mas agora com a sensação de dever cumprido, falar com vocês! Afinal como diz o Racionais Mc’s
” Não adianta querer, tem que ser, tem que pá O mundo é diferente da ponte pra cá.”
Até a próxima, pessoal!
Rodrigo Baglini
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