O ano era 480 a.C., 300 soldados caminhavam entre os desfiladeiros de Termópilas, ou para os mais íntimos, os que mareiam a região das “portas quentes”, pois ali havia fontes sulfurosas e, dia após dia, águas quentes ascendiam na região (para a mitologia grega eram as entradas cavernosas para o mundo de Hades). A única certeza de que os soldados dispunham era haver, no outro lado da passagem, um exército gigantesco a ser vencido: o exército Persa, liderado pelo rei Xerxes.
Os 300 homens eram comandados por Leônidas, que mesmo sabendo do tamanho do outro exército, mantiveram-se fortes durante os combates.
Pois é! Leônidas INOVOU ao pensar na formação a partir da unidade coletiva de seus soldados, mostrou a eles que a força não estava no individual, mas sim no grupo.
Essa é a famosa história dos 300 de Esparta escrita pelo poeta Simônides e adaptada para quadrinhos e filmes, tal como conhecemos.
Ao ler a história dos 300 de Esparta ficamos boquiabertos com as INOVAÇÕES daquele exército e a maneira pela qual venceram a escuridão à frente dos portões de Hades. Porém, nem todas as INOVAÇÕES precisam ser sangrentas, tampouco à frente da escuridão.
O ano era 1963, 300 trabalhadores rurais caminhavam com pés inchados a suplicar pela cidadania, “soldados” que queriam vencer o exército do analfabetismo e, em simultâneo, viviam as “portas quentes” do semiárido da cidade de Angicos no Rio Grande do Norte.
O líder deste exército não era Leônidas e sua arma não era uma espada, o líder tinha em sua mão duas das principais ferramentas de INOVAÇÃO, o giz e o diálogo.
Seu nome era Paulo Freire e durante 40 horas ele INOVOU na alfabetização de 300 trabalhadores rurais, utilizando o que eles sabiam e da maneira que sabiam. Enquanto os 300 de Esparta lutavam contra Xerxes, os 300 de Angicos lutavam contra a segregação, pelejavam contra a marginalização, militavam a favor de uma educação verdadeiramente inovadora.
Freire e Leônidas, cada um dentro de seu contexto histórico, inovou a partir do que tinham em mãos, PESSOAS.
Antes de mais nada, é importante considerar inovação não somente como sinônimo de ferramenta digital e aplicativos dispostos na nuvem. Afinal, as pessoas ainda são as principais ferramentas de INOVAÇÃO, pois diferente das tecnologias digitais que são lineares acerca dos fatos, as pessoas, assim como Freire dizia, têm saberes diferentes e, a partir do coletivo, podem sim, inovar sobre qualquer perspectiva que esteja a olhos próximos do aprendizado.
Por isso professor (a), ao pensar em INOVAÇÃO, pense nas pessoas como fim e nas tecnologias digitais como meio, pois a inovação está relacionada ao que você fará a partir dela e não como você operacionaliza tecnicamente o instrumento. Apertar o comando A para depois apertar o comando B e assim “compartilhar” com seu aluno, não é inovação e, sim, mais um apetrecho dentre vários que você apresentou a ele Esse provavelmente será estacionado na “caixinha” do esquecimento, pois não apresentou significado.
Freire não tinha instrumentos digitais e alfabetizou, mas por quê? O que ele fez? Simples, usou as pessoas, usou o que elas tinham, consumiu o diálogo, empregou o abraço, entrajou a escuta, usou o GIZ, enfim, INOVOU.
A inovação não pode ser entendida como saber mexer no aplicativo, mas sim o que você fará dela.
Portanto, professor (a), não pense que você é ultrapassado(a) por não utilizar os meios digitais e tampouco se compare ao professor(a) que se diz “inovador” e que apenas os utiliza SEM SIGNIFICADO, usando o tino de “revolução”.
Inovação é o que você faz ao escutar o aluno, quando propõe projetos insanos que nem você sabe como terminarão. Inova sempre que organiza peças teatrais que mais parecem um palco de risadas do que a própria técnica da arte. Cada vez que senta em roda e lê aquela história que só você sabe a entonação do personagem. No momento em que pede ajuda para um aluno ligar o aparelho dvd para passar aquele filme tão esperado pelas crianças. Ou até mesmo, quando corre atrás de giz no meio da aula para continuar a gincana que iniciou de maneira despretensiosa em sala de aula, colocando o nome dos alunos numa folha sulfite, colando-a nas paredes da sala. Tudo isso é INOVAÇÃO, pois se inovar é criar algo novo, você cria a cada dia um novo aprendizado para as crianças.
Neste exato momento, minha inovação foi esta: conversar com você por um texto, a partir de letras que surgiram na Fenícia, entre os anos de 1400 e 1000 a.C, nada de inovador não é?!
Por Rodrigo Baglini
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